Noite de Poesia Russa - recital CCSP

LIUBLIU ("Amo"), de MAIAKÓVSKI
conhecido como "poema-anel"

    Noite de Poesia Russa
     Curadoria: Alex Dias
     Leituras com os poetas: Alex Dias e Claudio Daniel

     Participações de Vadim Klokov, músico e;
     Grupo Balalayka de danças russas

     Dia 27 de abril - sexta-feira - das 20h30 às 22h
     Espaço Mário Chamie (Praça das Bibliotecas)
   
     Centro Cultural São Paulo
       Rua Vergueiro, 1.000 - Paraíso - São Paulo-SP

       Entrada franca
- sem necessidade de inscrição, nem retirada de ingressos


Release
A Noite de Poesia Russa fará um passeio pela poesia russa moderna, uma das mais influentes e relevantes do século XX. A curadoria optou por apresentar o que de mais significativo temos, nas traduções em língua portuguesa, dos poetas do século passado; não deixando de apresentar o precursor da poesia e da literatura russa moderna, Aleksandr Púchkin (século XIX) que desbravou o caminho da modernidade para Gógol, Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov e Maiakóvski, só  para citarmos alguns dos maiores. Muitos dos poetas que serão lidos revolucionaram o uso das palavras. Por sinal, trata-se de uma geração que primou pela relação entre o som e o sentido. É importante citarmos que a revolução ocorrida na poesia e na literatura russa do século passado foi permeada pelas Revoluções ocorridas no país, sobretudo as de 1917, que levaram a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), extinta apenas em 1991. A poesia, portanto, buscava novas formas de expressão e o uso da linguagem coloquial, da sigla partidária, do palavrão, tornavam-se matéria de poesia; e os poetas disseminavam suas criações em praças e em comícios. Infelizmente, devido ao período conturbado em que viveram tais poetas, muitos sucumbiram às perseguições. Para aferirmos o terror de tais resultados citamos um trecho do estudo de Roman Jakobson – A geração que dissipou os seus poetas:

Execução de Gumilióv (1886-1921), longa agonia espiritual, torturas físicas insuportáveis, morte de Blok (1880-1921), privações crueis e morte com sofrimentos desumanos de Khlébnikov (1885-1922), suicídios premeditados de Iessiênin (1895-1925) e de Maiakóvski (1893-1930). É assim que os anos 20 deste século viram morrer, com idades variando de 30 a 40 anos, os inspiradores de uma geração, e para cada um deles a consciência de um fim irremediável, com sua lentidão e sua precisão, foi intolerável. 
Devemos acrescentar ainda as mortes de Óssip Mandelstam (1891-1938), a caminho de um campo de concentração, e o suicídio de Marina Tzvietáieva (1892-1941) uma das mais importantes vozes da poesia russa do século XX.

Além dos poemas de Púchkin, traduzidos por Nelson Ascher e Boris Schnaiderman, leremos poemas de Maiakóvski, Marina Tsvietáieva, Aleksandr Blok, Andréi Biéli, Khlébnikov, Ana Akhmátova, Sierguéi Iessiênin, Arsenii Tarkovskii, entre outros, nas traduções de Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, Boris Schnaiderman, Aurora F. Bernardini e Paulo da Costa Domingos. O músico russo Vadim Klokov apresentará, dentre outras, as composições Vocalise, de Rochmaninov  e a Scherzo, de Miroshnikov, através do instrumento fagote. E caberá ao Grupo Balalayka de danças russas complementar a programação que consideramos ser uma excelente homenagem à rica cultura desse país.



Alguns poemas...


Sempre, para sempre, lá e cá
Khlébnikov – Tradução de Aurora F. Bernardini
As pessoas mudaram seu rosto de modo surpreendente
Quando eu vim à luz do dia.
Algumas pediram que me fosse,
Outras disseram: irradia.



O som seco
Óssip Mandelstam – Tradução de Augusto de Campos
O som seco e surdo desta
Fruta caindo
No murmúrio sem fim do
Oco silêncio da floresta.


DE "V INTERNACIONAL"
Maiakóvski – Tradução de Augusto de Campos
Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem.



Vida, Vida
Arsenii Tarkovskii – Tradução de Paulo da Costa Domingos
Não acredito em pressentimentos, nem agoiros
Me assustam. Não evito a calúnia
Ou o veneno. Não há morte sobre a terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há
Que ter medo da morte aos sete
Nem aos setenta. O real e a luz
Existem, mas não a morte ou a treva.
Viemos hoje à enseada,
E o cardume da imortalidade veio
Quando eu puxava as redes.